quarta-feira, 28 de abril de 2010

VIRA MESA SEU "DOTÔ"




Expostos imposto contra parede
Parede vira rede de alienação
Alienação construída pelo meio de comunicação
Comunicação delineada com visões do mal
Mal?Ser mal é normal?
Normal é ser animal?
Animal, nesse meio de comunicação formal
Formal é a maneira de envenenar seu cérebro
Cérebro envenenado com as programações
Programações assistidas com prazer
Prazer que vira dor, né seu dotô?

Vira ,vira,vira a mesa
Viram, a mesa virou
Vamos inverter os fatores, os atores
Pra vê se tu agüenta as nossas dores.

Doutorado na técnica de alienar
Introduzindo em sua alma
O chip da comunicação
Ação formada pelo CMI
Capitalismo Mundial Integrado, por aí
Você pode ouvir,as melhores propagandas
Querendo te consumir, querendo te engolir


Até quando você vai ficar nesse meio?
Sobrevivendo, sem ter onde morar
O que comer? E amanha como vou estar?
Duvidas freqüentemente assistida do sofá
Por “megas” corruptos de várias profissões
Que já ganharam o seu, seja com o mensalão
Ou com o arrego do morrão.



Diogo Saddock de Sá

RESISTÊNCIA

terça-feira, 13 de abril de 2010

A verdadeira explicação da tragédia‏

Chuvas e hipocrisia

Nestas horas em que centenas de pessoas morrem ou ficam desabrigadas em
função do desabamento de encostas, enchente e transbordamento de rios,
proliferam na mídia textos e entrevistas de “especialistas” que buscam
apontar as causas ”naturais” e “antrópicas” que explicariam tais
“tragédias”. Alguns destes textos e entrevistas são mais sérios, outros
mais oportunistas. Uns mais pontuais, outros mais abrangentes. Alguns mais
contundentes na crítica aos governantes de plantão, outros mais
benevolentes. Mas, poucos vão fundo na análise do conjunto de questões que
estão envolvidos nesta complexa problemática.

O que nenhum texto, entrevista ou declaração que circulou nestes últimos
dias disse é que tudo isto tem a ver com o modelo de desenvolvimento
vigente no Brasil desde meados do século XX, baseado na modernização
acelerada, seletiva e conservadora do campo e da cidade.

E a raiz do problema está na forma acelerada com que se expulsou do campo
brasileiro no último século mais de 50 milhões de pessoas. A perpetuação
do controle das terras pelo latifúndio e a modernização deste estão na
origem da expulsão desta enorme massa de trabalhadores rurais, os quais
foram precariamente absorvidos pelas grandes cidades brasileiras. A
histórica reivindicação da reforma agrária foi não só negada, como
substituída por uma política de incentivo ao desenvolvimento de
tecnologias poupadoras de mão-de-obra no campo, levando ao aumento da
concentração fundiária e ao desemprego e subemprego generalizados no campo
e à conseqüente expulsão de grandes contingentes de trabalhadores rurais
para as cidades.

E para onde foram estes trabalhadores? Para as áreas das grandes cidades
que não interessavam ao grande capital imobiliário, por conta dos custos
de produção mais elevados: as encostas dos morros e as várzeas dos rios.
Não porque inexistam espaços urbanos vazios em melhores condições para a
moradia destas pessoas, mas porque estes vazios estão controlados pelo
capital imobiliário, aguardando a valorização destas áreas. Da mesma
forma, há um sem número de prédios e apartamentos vazios nas nossas
grandes cidades, mas estes não podem ser ocupados por estas pessoas, pois
o “sagrado direito de propriedade” garante o direito dos proprietários de
mantê-los vazios, mesmo que isto signifique empurrar milhares de pessoas
para morar em áreas “de risco”.

Portanto, o que está raiz das centenas de mortes que se repetem a cada
chuva é a propriedade privada!!! Enquanto o direito de propriedade imperar
sobre o direito à vida estas tragédias se repetirão. Enquanto a reforma
agrária não for feita, permitindo que muitos trabalhadores que foram
expulsos do campo tenham o direito de para lá retornar e que outros que
ainda lá estão não sejam expulsos, estas tragédias se repetirão. Enquanto
a reforma urbana não for feita, colocando à disposição dos trabalhadores
os terrenos e as moradias mantidos fechados pelos especuladores urbanos,
estas tragédias se repetirão.

É certo que a geografia do Rio de Janeiro favorece a ocorrência de
deslizamentos de encostas e transbordamento de rios, mas não é certo que
os trabalhadores só tenham a possibilidade de morar nestes lugares, nem
que devam morrer por causa disso. É certo que também desabaram encostas
onde havia mansões, mas só morreram os pobres. É certo que todos na cidade
sofreram com as chuvas, mas o grau de sofrimento é incomparável.

E agora o que vemos se descortinar é mais um exemplo da hipocrisia das
nossas elites, através da multiplicação das declarações de políticos e
editorias da grande imprensa defendendo a remoção das populações
residentes em áreas “de risco” em nome da “segurança destas próprias
pessoas”. Trata-se da retomada de uma das práticas mais autoritárias
levadas a cabo na construção do espaço urbano de nossas grandes cidades e
que longe de proteger “os pobres” acentuou as nossas mazelas sociais. Ou
esquecemos que as favelas removidas do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas
deram lugar a prédios de alto luxo enquanto a população que aí residia foi
deslocada para lugares como a Cidade de Deus, repleta de problemas de
infraestrutura e internacionalmente famosa pela violência.

Se o propósito é realmente o de proteger os trabalhadores que moram nas
“áreas de risco”, então vamos destinar imediatamente para moradia as
centenas de prédios – alguns inclusive públicos – que se encontram hoje
vazios na cidade e no estado do Rio de Janeiro. Podemos começar pelos da
região portuária do Rio, onde há inúmeros prédios e terrenos públicos e
privados abandonados...

Mas, não, isso não é possível, afinal esta área já está destinada para os
megaempreendimentos imobiliários voltados para a modernização da região
portuária do Rio, visando a Copa do Mundo e as Olimpíadas...
A hipocrisia das elites brasileiras é incomparável... E inconcebível!

Paulo Alentejano – Professor do Departamento de Geografia da FFP/UERJ,
integrante da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e da Associação
Brasileira de Reforma Agrária (ABRA).